Maricá realiza captação de órgãos para transplante no SUS

Município integra o Programa Estadual de Transplantes desde 2022 e já conseguiu a doação de mais de dez órgãos em dois hospitais

 

Maricá realiza um serviço que contribui para salvar vidas: a captação de órgãos para transplante de pacientes falecidos nos hospitais municipais Conde Modesto Leal, no Centro, e Dr. Ernesto Che Guevara, em São José do Imbassaí.  Iniciado em 2022, quando o município passou a integrar o Programa Estadual de Transplantes (PET), a Secretaria de Saúde de Maricá já conseguiu efetivar a doação de quatro pacientes que resultou em mais de dez órgãos captados nos dois hospitais.

A comissão de transplante de órgãos do Hospital Conde Modesto Leal foi instituída em maio de 2022 e, até o momento, já foram realizadas duas captações desse tipo. A primeira ocorreu em setembro de 2022, sendo doadas uma córnea esquerda e uma córnea direita, ajudando duas pessoas que aguardavam pelo transplante. No último sábado (27/05), foram captados fígado, ossos, pele, córnea esquerda e córnea direita, beneficiando sete pessoas e oferecendo mais qualidade de vida. No Hospital Dr. Ernesto Che Guevara já foram captados órgãos de dois doadores.

O processo começa quando a equipe de profissionais identifica um quadro clínico com suspeita de morte encefálica, sinalizando à comissão responsável por essa área, que realiza a atualização da situação do paciente, e faz as primeiras orientações à família e dá início ao acompanhamento.

Nessas situações, é obrigatório que a morte encefálica seja diagnosticada por dois médicos qualificados, seguindo a resolução 2473/17 do Conselho Federal de Medicina (CFM). Além disso, esses profissionais precisam ser titulares de uma das especialidades mencionadas a seguir: medicina intensiva, neurologia, neurocirurgia e medicina de emergência. No caso de ausência desses especialistas, o diagnóstico pode ser feito por qualquer médico com, no mínimo, um ano de experiência no atendimento a pacientes em coma, que tenha acompanhado ou realizado, pelo menos, dez exames de determinação de morte encefálica ou tenha curso de capacitação nesse âmbito.

É importante ressaltar que nenhum dos médicos habilitados para a abertura e fechamento do protocolo de morte encefálica pode fazer parte da equipe de transplantes.

Processo conta com cuidados e etapas específicas

Alessandro Jardim, coordenador de clínica médica do Hospital Conde Modesto Leal, relatou como foram os procedimentos e fluxos iniciais adotados em um dos casos.

“No hospital, um paciente apresentou complicações neurológicas. Após a identificação dessa alteração, o paciente foi submetido a um exame de tomografia computadorizada de crânio, que evidenciou uma lesão neurológica grave. Após isso, solicitamos à Central Estadual de Regulação uma avaliação neurocirúrgica, direcionando o paciente ao Hospital Estadual Azevedo Lima, onde definiram a lesão como grave e irreversível”, explicou.

Alessandro também detalhou o processo de retorno ao Hospital Conde Modesto Leal para dar continuidade à avaliação.

“Posteriormente, o paciente retornou à unidade para suporte clínico. Um médico da comissão interna de morte encefálica checou parâmetros clínicos obrigatórios, tais como: pressão arterial, temperatura corporal, saturação de oxigênio, tempo de sedação. Com isso, foi aberto o protocolo de morte encefálica e a Central Estadual de Transplantes foi informada da suspeita de óbito deste tipo”, acrescentou.

Após terminar o primeiro exame clínico do paciente, a família é informada da suspeita de morte encefálica e também da necessidade de outras duas avaliações médicas para finalizar o diagnóstico.

 

Avaliação e encaminhamento à Central Estadual de Transplantes

Depois de todo o processo de identificação e avaliação minuciosa dos profissionais, são enviados à Central Estadual de Transplantes  outras informações necessárias, como exames laboratoriais, dados da evolução médica diária e uma cópia da tomografia computadorizada de crânio. Após a validação do caso pela Central, um outro médico realiza a segunda avaliação clínica e o teste de apneia – que confirma a ausência de movimentos respiratórios após estimulação completa.

A partir disso, a Central Estadual de Transplantes envia um outro médico examinador, que realiza análises gráficas, através de um eletroencefalograma, doppler transnucal ou outras abordagens desse tipo. Assim, é concluída a análise do paciente, com a avaliação por três médicos diferentes e constatada a morte encefálica.

Após essas etapas, a Central Estadual de Transplantes segue com a organização de todos os processos até a doação e o transplante de órgãos. Com a realização de uma doação efetiva, a Central distribui os órgãos seguindo os parâmetros definidos pelo Sistema Nacional de Transplantes.


Seja um doador!

Para ser um doador de órgãos em vida, é necessário comunicar a seus familiares esse desejo (de preferência por escrito), visto que apenas eles podem autorizar a retirada de órgãos após o falecimento. É importante ressaltar que somente pessoas que estejam até o segundo grau de parentesco podem permitir o procedimento.

“É muito importante a conscientização da população em geral, pois temos cerca de 40 mil pessoas aguardando por transplantes, que são feitos exclusivamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Existe um trabalho técnico completo e os profissionais de Maricá são capacitados, mas precisamos de mais adesão à doação para diminuir a fila de espera, já que atualmente só conseguimos captar 40% das pessoas com morte encefálica”, reforçou Aryel Vieira, médico e diretor técnico do Hospital Conde Modesto Leal.

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