“Guerra dos Cabos”: comerciante acorda sem internet — só um provedor domina o Coelho, em São Gonçalo;

Moradores acusam narco milícia de impor monopólio

São Gonçalo — Moradores e comerciantes do bairro Coelho acordaram, na manhã desta segunda-feira (17 de novembro de 2025), com um aviso silencioso e amarelo: cabos de fibra rompidos, lojas sem telefone fixo e caixas de atendimento às escuras. Em tempo recorde, clientes migraram — voluntária ou forçadamente — para apenas um provedor que permanece funcionando na região. Moradores afirmam que não se trata de coincidência: apontam para uma prática que investe em intimidação e controle local, típica de grupos criminosos que impõem monopólios de serviços em áreas dominadas.

O cenário

Centenas de comerciantes dependem hoje da internet para PDV, telefone fixo e pagamentos com cartão. A paralisação do serviço da antiga Oi Fibra — agora Nio Fibra — e o rompimento dos cabos deixam lojistas vulneráveis: vendas caem, clientes não conseguem contato e filas se formam. Moradores relatam que técnicos da empresa foram impedidos de subir em postes nas últimas semanas, sob ameaças veladas quando tentaram restaurar redes. Especialistas em telecomunicações consultados por nossa reportagem dizem que cortar cabos e coagir concorrentes é uma estratégia simples e eficaz para criar um monopólio ilegal de conectividade — um negócio lucrativo e silencioso para quem controla a rua.

Quem é o provedor que sobra — e por que importa

Desde 2025 a operação de banda larga da Oi passou por mudança de controle e brand: grande parte da operação de fibra foi transformada na marca Nio, com migração de milhões de clientes. A transição trouxe disputas corporativas e, segundo reportagem do mercado, tensões entre antigos donos e novos controladores — cenário que complicou a prestação de serviços em áreas mais conflagradas. Enquanto empresas tentam normalizar atendimentos, relatos de clientes sem assistência técnica e falhas vêm crescendo. Em bairros dominados por milícias ou grupos de tráfico, essa fragilidade é explorada por quem controla o território.

Testemunhos (ouvidos por telefone e redes)

— “Vim abrir a loja e o telefone estava mudo. O rapaz da vizinhança me disse que só tinha sinal de um provedor. Disseram que os técnicos ‘não podem subir lá’.” — comerciante do Coelho.
— “Meu ponto de cartão ficou fora do ar das 8h às 15h. Perdi almoço e vendas do dia. É sempre a mesma história quando alguém quer crescer por aqui.” — dona de mercearia local.

A hipótese mais grave: controle por milícia

Fontes policiais e reportagens anteriores no estado do RJ documentam que grupos armados já impuseram serviços clandestinos de internet em comunidades vizinhas, ameaçando técnicos de grandes operadoras e instalando sua própria infraestrutura para faturar mensalidades. O padrão — corte de cabos públicos, ameaças e oferta de “serviço local” — coincide com os relatos de comerciantes do Coelho. Se confirmado, trata-se de crime organizado que além de extorquir comércio passa a controlar informação e mobilidade econômica local.

O que a população e as autoridades podem (e devem) fazer agora

  1. Registrar ocorrência policial — comerciantes e moradores devem formalizar queixas para a Polícia Civil e à Delegacia de Repressão ao Crime Organizado local; boletins documentam intimidações e ajudariam em operações.
  2. Acionar a Anatel — interrupções massivas e impedimento de técnicos configuram infração regulatória; denúncias ao órgão federal pressionam por investigação e reparação.
  3. Documentar provas — fotos dos cabos cortados, vídeos de pessoas que praticam abordagem, gravações de ameaças e protocolos de atendimento negados à assistência técnica.
  4. Mobilizar a mídia e a sociedade civil — transparência e exposição reduzem o custo de manter monopólios locais e atraem fiscalização.
  5. Proteção a técnicos — empresas devem exigir escolta policial para restaurações em áreas de risco; autoridades devem priorizar segurança de infraestrutura crítica.

Riscos e consequências

Além do prejuízo imediato aos comerciantes (perda de vendas, impossibilidade de atendimento), o controle territorial da conectividade tem efeitos mais amplos: censura econômica, dificuldade para denúncias online, vulnerabilidade a extorsões e perda de confiança de fornecedores e clientes. A internet é agora serviço essencial — sua monopolização por milícias agrava a violência e a exclusão, a maioria dos comerciantes depende de uma internet alem do uso normal, que precisa de servidores, IPs fixos, IPV4 valido, serviços que muitos desses provedores do crime não conseguem suprir, deixando os comerciantes na mão, sem conseguir trabalhar.

Enquanto as prateleiras lotam e as portas se abrem, embaixo dos postes há um jogo de força com cabos cortados: a internet, essencial ao comércio e à vida moderna, virou moeda e arma. No Coelho, São Gonçalo, o apagão que beneficia um provedor e silencia concorrentes cheira a prática de quem não aceita perder o controle — e transforma serviços públicos e privados em território de conflito. Se o Estado não reagir com investigação e proteção, o preço pago será caro: não só em vendas perdidas, mas na liberdade e segurança de uma comunidade inteira.

Deixe comentário

Seu endereço de e-mail não será publicado. Os campos necessários são marcados com *.

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.

Follow by Email
Instagram
WhatsApp