Profissionais da saúde criam rede de solidariedade para enfrentar falta de insumos em hospitais do RJ
Grupo com quase 400 colaboradores empresta, troca e doa materiais entre hospitais, mas enfrenta dificuldades com transporte e burocracia
A escassez de insumos hospitalares no estado do Rio de Janeiro tem levado profissionais da saúde a se unirem em uma verdadeira rede de apoio. Criado por servidores de diferentes unidades públicas (federais, estaduais e municipais), o grupo “Solidariedade” reúne quase 400 colaboradores de hospitais de todo o estado e atua diariamente na troca e doação de materiais hospitalares para suprir emergências e evitar a interrupção de atendimentos.
Trocas e doações salvam atendimentos
O grupo nasceu de forma espontânea, em aplicativos de mensagens, e hoje funciona como uma rede colaborativa entre almoxarifados, farmácias e setores técnicos. Por meio das trocas, insumos básicos como sondas, cateteres, seringas e medicamentos são redistribuídos entre hospitais — muitas vezes evitando a suspensão de cirurgias e o agravamento de quadros clínicos.
Além das trocas, o grupo também realiza doações voluntárias de materiais a unidades em situação mais crítica, fortalecendo o espírito solidário entre profissionais da saúde.
Barreiras para cruzar a ponte
Apesar dos esforços, os participantes enfrentam entraves burocráticos e logísticos, especialmente no transporte dos materiais. Um dos principais obstáculos é a falta de autorização das chefias para que viaturas hospitalares cruzem a Ponte Rio–Niterói, o que impede a retirada de insumos entre municípios da Região Metropolitana.
“Se tem chefia de setores aqui, apelo para o bom senso. O grupo está encontrando muitas dificuldades com transporte. Estamos trabalhando para suprir as faltas de nossas unidades. Um exemplo: as unidades do município do Rio não são autorizadas a atravessar a ponte. Minha unidade tem somente uma ambulância, e ela está na rua agora pela manhã fazendo quatro entregas”, relatou uma integrante do grupo.
Burocracia que atrasa vidas
Há situações em que um hospital possui o material que outro precisa, mas o deslocamento não é autorizado. Isso tem provocado atrasos em atendimentos, remarcações de cirurgias e aumento da pressão sobre equipes.
Os profissionais pedem mais flexibilidade das chefias e secretarias de saúde, permitindo que viaturas oficiais circulem entre municípios em caráter emergencial.
“Não estamos pedindo nada além de bom senso. Quando falta um insumo, não é apenas um papel que atrasa — é um paciente que deixa de ser atendido”, desabafou outro participante.
Solidariedade que salva
Enquanto não há medidas oficiais, o grupo “Solidariedade” segue ativo — trocando, emprestando e doando materiais para hospitais em todo o estado. Em meio à crise, a iniciativa mostra que a cooperação entre profissionais da saúde pode fazer a diferença entre o desabastecimento e o atendimento digno à população.
