Último dia da Festa Literária de Maricá é marcado por homenagens a Darcy Ribeiro
Centenário do educador e antropólogo foi celebrado com música, teatro, premiações e até bolo para o público
A sétima edição da Festa Literária Internacional de Maricá (Flim) terminou na quarta-feira (26/10), com uma série de homenagens a Darcy Ribeiro, que completaria 100 anos no mesmo dia. O antropólogo, escritor e educador foi celebrado com uma peça de teatro sobre sua vida, a entrega de um prêmio da Secretaria de Educação de Maricá, a abertura de uma série de conferências sobre sua vida e obra e até com um “Parabéns pra você” com bolo e refrigerante.
A tarde de festa foi aberta com a entrega do prêmio Noções de Coisas aos alunos da rede municipal (8º e 9º anos), que participaram do projeto com ensaios escritos e poemas visuais; e do prêmio Paulo Freire, que destacou a produção teórica dos professores da rede, também com base na obra de Darcy. A secretária de Educação de Maricá, Adriana Costa, anunciou que os trabalhos dos professores serão reunidos e publicados em livro.
“Hoje damos os parabéns ao nosso patrono Darcy Ribeiro, cujo centésimo aniversário começamos a celebrar exatamente um ano atrás, na edição anterior da Flim. Desde então, realizamos lives sobre o trabalho de Darcy a cada dia 26, e hoje vocês professores o presenteiam com seus escritos. Nós, como povo brasileiro, somos múltiplos, mas também somos únicos, como foi Darcy”, disse a secretária.
Após a distribuição do bolo de aniversário, a Cia. Teatral Lacraias ocupou o palco com o espetáculo “Viva Darcy Ribeiro”, no qual a vida do professor foi contada por quatro jovens atores de etnias diferentes, todos representando o mesmo personagem e, ao mesmo tempo, a diversidade que Darcy tanto celebrou em sua vida. A peça fez o público se emocionar, especialmente nas passagens que retratam o exílio durante a ditadura militar, e quando, já doutor honoris causa pela Universidade Sorbonne (França), ele proferiu o célebre discurso “Fracassei em tudo que tentei na vida. (…) Mas os fracassos são minhas vitórias. Eu detestaria estar no lugar de quem me venceu”.
No início da noite, a Companhia de Desenvolvimento de Maricá (Codemar) apresentou o primeiro dos dez webinários da série “A Utopia é Aqui”, que propõe um mergulho na obra de Darcy Ribeiro em encontros mensais, sempre na última semana do mês, coordenados pela Fundação Darcy Ribeiro. Na Flim, o encontro teve como tema o livro “O Povo Brasileiro”, com apresentação de um minidocumentário sobre a vida do antropólogo e participação da cantora Muse Maya e dos MCs Marechal e Estudante – o público, que lotava a tenda, vibrou com as rimas improvisadas pelos dois rappers.
“Darcy vive em cada um de nós, que não aceitamos o preconceito, a desigualdade e a exploração. Ele escolheu Maricá para viver porque percebeu que a cidade reunia a natureza exuberante ao povo miscigenado que ele tanto amava, do qual se orgulhava em fazer parte”, afirmou o presidente da Codemar, Olavo Noleto, que ressaltou o peso da educação pública no projeto de país celebrado por Darcy Ribeiro: “Parabéns a Darcy pelo centenário, e a você, Adriana [Costa, secretária de Educação], que representa os professores e alunos da rede municipal. Vocês já fizeram a revolução em Maricá”.
Festa Literária Internacional de Maricá
A 7ª edição da Festa Literária Internacional de Maricá (Flim) contou com 13 dias de muitas atrações para os amantes da leitura no Centro Administrativo de Itaipuaçu, entre elas a participação de 80 editoras, eventos para crianças e adultos, oficinas, palestras, tenda sensorial, shows, cosplay, feira de livros, museu cultural, cinema, praça de alimentação, entre outras atividades.
A edição deste ano homenageou a escritora mineira Conceição Evaristo – romancista, poeta, contista, e há 10 anos moradora de Maricá, cujas obras abordam a vivência das mulheres negras e são repletas de reflexões acerca das profundas desigualdades raciais brasileiras. Misturando realidade e ficção, seus textos são valorosos retratos do cotidiano, instrumentos de denúncia das opressões raciais e de gênero, mas também se voltam para a recuperação da ancestralidade da negritude brasileira.
Outra ação marcante dentro da feira foi o lançamento do livro “Testemunho: Darcy Ribeiro por ele mesmo”, que além de comemorar o Dia do Professor, marca o centenário do educador Darcy Ribeiro. A publicação da editora Record traz todos os marcos da trajetória do etnólogo, antropólogo, romancista e político Darcy Ribeiro: a vida entre os indígenas, a produção intelectual, a criação da Universidade de Brasília, a militância política, o exílio, o retorno ao Brasil e a vida pública, a luta contra o câncer e seus grandes amores.
Ainda durante o evento ocorreram debates e rodas de conversa que reuniram escritores, professores, filósofos e chefs para um bate papo com o público. Entre os assuntos debatidos, estavam alimentação saudável, com a apresentadora Bela Gil; literatura negro afetiva, com os escritores Otávio Junior e Sônia Rosa; sustentabilidade emocional e relação com a internet, com a filósofa Viviane Mosé; acesso à literatura como direito humano, com as escritoras Ana Maria Machado, Renata Costa e Rita Rosa, entre outros.
Para fomentar o interesse pela leitura, nesta edição, estudantes da rede municipal de Maricá e também da rede estadual, incluindo o Instituto Federal Fluminense (IFF), receberam vouchers de R$ 150 para a compra de livros na feira. O público também contou com shows diários de cantores e bandas, muitos deles locais, com repertório variado, entre samba, gospel, sertanejo, forró e mpb; entre eles Ronaldo Valentim, Banda Biermen, Trio Espírito Santos, Rohan Victor, Allex Barcellar, Chega Mais Para Cristo, entre outras.