Maricá inicia Jornada de Alfabetização do Sim, Eu Posso
Ao todo, 2.323 alunos irão aprender o alfabeto em polos nos quatro distritos da cidade
A Prefeitura de Maricá iniciou nesta segunda-feira (23/01) a Jornada de Alfabetização do Sim, Eu Posso, com polos nos quatro distritos da cidade (Centro, Ponta Negra, Inoã e Itaipuaçu). A iniciativa do Instituto de Ciência, Tecnologia e Inovação de Maricá (ICTIM) e da Secretaria de Economia Solidária tem o objetivo de erradicar o analfabetismo no município e nessa primeira etapa irá beneficiar 2.323 alunos. As aulas acontecem em locais próximos das moradias dos educandos e em horários que possibilitem a frequência assídua.
Um dos pólos no Centro fica na sede do Banco Mumbuca. Nessa unidade cinco alunos voltaram às salas de aulas para aprender a ler e escrever. Uma dessas histórias é de Juliana Souza Bello, de 25 anos. Ela morava em São Gonçalo onde cursou até o segundo ano do ensino médio, mas problemas familiares a afastaram das salas de aula. Atualmente está morando com o irmão em Jacaroá, fazendo um curso de manicure e quer melhorar a leitura. “Leio a Bíblia com dificuldade. Quero aprender a ler e meu sonho é ser professora”, disse Juliana.
Moradora de Araçatiba, Jéssica Costa, de 36 anos, fez até a quinta série do ensino fundamental, mas parou os estudos quando teve a primeira filha aos 18 anos. Hoje ela tem mais dois filhos e decidiu voltar a estudar quando descobriu o programa Sim, Eu Posso. “Tenho muita dificuldade para ler, escrever e falar. Resolvi voltar a estudar para fazer o EJA (Ensino de Jovens e Adultos) e conseguir um trabalho melhor. Depois quero ser enfermeira ou trabalhar na área administrativa como secretária”, afirmou Jéssica.
Aulas de Língua Portuguesa e Guarani na aldeia indígena
Na aldeia Mata Verde de Bonita (Tekoa Ka'Aguy Hovy Porã, em guarani), em São José do Imbassaí, são 21 indígenas entre 20 e 30 anos de idade que serão alfabetizados na Língua Portuguesa e em Guarani. Grande parte não fala em português e somente se comunica em guarani, mas não sabe ler e escrever. Uma das alunas é a cacique Jurema Nunes de Oliveira, que fala o próprio nome, mas tem dificuldade em soletrar. “Tem gente que não sabe nem letra A, nem o nome como é escrito. Estou muito feliz porque vamos escrever nossos nomes. Eu entendo um pouco para ler e falar, mas tem gente que não sabe responder em português”, declarou Jurema, que revelou o sonho das demais alunas da aldeia. “Elas querem aprender a ler e escrever para serem professoras”, completou.
O professor indígena Liedson Tibes (Karaí em guarani), 19 anos, contou que todos na aldeia se falam em guarani, mas precisam aprender a leitura e escrita para conseguirem trabalhos em outros lugares. Sobre a metodologia, o professor disse que vai ensinar a falar na língua nativa para depois traduzir para o português. “A maior dificuldade é a escrita, tanto em guarani quanto em português. As pessoas falam as letras A, B, C, mas eles não reconhecem. Então esse programa será muito importante para todos”, ressaltou Liedson.
No primeiro dia de aula na aldeia, os alunos conheceram as vogais e fizeram exercícios na lousa para aprender a usar pincéis (no caderno será lápis) e treinaram contornos de figuras para depois aprenderem a fazer as letras. Em seguida, foi feita uma dinâmica com a brincadeira de forca, onde os professores colocavam os números 1 (a), 2 (e), 3 (i), 4 (o) e 5 (u) e os alunos precisavam colocar as vogais para acertar as palavras.
Metodologia do Sim, Eu Posso
Brenda Costa, coordenadora de turma do distrito Centro, explicou que o programa tem duração de oito meses e na primeira metade são apresentadas as letras e números porque o método de alfabetização associa letra a número. “É preciso criar essa familiarização com letras e números. Eles vão aperfeiçoar na leitura e na escrita depois que conhecerem o alfabeto, os números para entender como funciona as sílabas e a fonética das letras”, disse Brenda.
Nos últimos dois meses, as equipes do projeto se mobilizaram pelas ruas da cidade e fizeram busca ativa de pessoas que ainda não sabiam ler e escrever. Levantamento apontou a existência de mais de duas mil pessoas nesta condição. Os educadores visitaram residências e conversaram com a população nas lojas, igrejas, pontos de ônibus, entre outros espaços.
O “Sim, Eu Posso!”, um método de alfabetização criado pelo Instituto de Pesquisa Latino-americano e Caribenho IPLAC, contempla as condições de vida das pessoas para alcançar o objetivo, que é erradicar o analfabetismo. Reconhecido internacionalmente, o método já alfabetizou quase 11 milhões de pessoas em mais de 30 países. No Brasil, mais de 100 mil pessoas têm sido alfabetizadas com este método, de acordo com acompanhamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Caso você conheça alguém que ainda não sabe ler e escrever, basta fazer contato com o número (21) 99932-8202.
Fotos: Marcos Fabrício
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