As escolas de samba surgiram para ocupar um espaço de cidadania que foi negado pelos gabinetes oficiais
'As escolas de samba surgiram para ocupar um espaço de cidadania que foi negado pelos gabinetes oficiais', diz Luiz Antonio Simas
Fala foi durante webnário em homenagem a Darcy Ribeiro realizado pela Companhia de Desenvolvimento de Maricá
O conceito de escola é amplo, e isso ficou claro durante o 8º webnário da série “Reconstruindo o Brasil a partir de Darcy Ribeiro”, realizado pela Companhia de Desenvolvimento de Maricá (Codemar) em parceria com a Fundação Darcy Ribeiro. Além de relacionar a palavra aos CIEPs, com seu projeto inicial de educação integral, a conversa também se estendeu às escolas de samba. De acordo com o historiador Luiz Antonio Simas, as agremiações são espaços de formação de sociabilidade, de identidade.
O webnário foi transmitido ao vivo, na noite de quinta-feira (20/07), no canal da Prefeitura de Maricá no Youtube (@prefeiturademarica1), onde ainda pode ser conferido, na aba “ao vivo”. MC Martina e jovens artistas locais de Maricá apresentaram poesias nos intervalos.
“Vem desde a abolição da escravidão. Cem anos depois, em 1988, a Mangueira levou para a avenida o enredo 'Cem anos de liberdade: realidade ou ilusão?'. O samba dizia: 'Será que raiou a liberdade? Onde está a liberdade, onde está que ninguém viu?”, disse Simas, começando a comentar o tema da edição, “Do Sambódromo aos CIEPs”.
O projeto do CIEP (Centro Integrado de Educação Pública) foi desenvolvido por Darcy Ribeiro e posto em prática no governo de Leonel Brizola. A mesma dupla foi responsável por construir o sambódromo do Rio.
“Darcy sabia que escolaridade e educação precisam andar juntas, mas não são sinônimos. As escolas de samba ocupam um espaço de cidadania que foi negado pelos gabinetes oficiais desde a abolição. Em 1960, o Salgueiro desfilou Zumbi dos Palmares, levando-o para o desfile antes mesmo de aparecer nos livros didáticos. Darcy sabia disso, reconheceu a importância das escolas de samba e idealizou o sambódromo para ser usado também como escolas para crianças fora do carnaval”, finalizou Simas.
Projeto perfeito
Outro convidado do webnário foi o primeiro diretor de um CIEP. O professor Aníbal Junior foi escolhido pelo próprio Darcy Ribeiro e por Brizola.
“Darcy era fantástico. Tem toda a trajetória do Darcy indigenista, um jovem perceptivo vendo o raciocínio dos indígenas, percebendo as coisas. Tem o Darcy que cria a Universidade de Brasília. E ele acaba deixado de lado pela ditadura. Mas ele volta com a ideia dos CIEPs, que é a ideia de uma sociedade acolhedora e responsável. A escola tem que ter uma totalidade, tem que dar conteúdo, mas tem que te dar a felicidade”, disse.
Necessário para o Brasil
José Ronaldo Cunha, presidente da Fundação Darcy Ribeiro, explicou como, na visão do educador, o projeto de uma escola que receba a comunidade é essencial. Vem a partir de uma realidade diversa da de outros países, onde a comunidade é que acolhe a escola.
“Darcy tinha o compromisso de realizar os projetos. Realizar a bandeira dele: educação de qualidade, laica, para todos, pública. No primeiro ano resolveram construir o sambódromo, e que deveria ser feito como escolas. Um uso para os dias sem desfiles”, disse José Ronaldo.
Segundo o presidente da fundação, a ideia de Darcy era criar uma nova rede de escolas com capacidade de funcionar em tempo integral.
“Tem que ter espaço para as crianças, não pode ser um presídio. Tem a missão de construir um imaginário civilizatório nessas crianças. O Centro Integrado de Educação Pública tinha um Programa de Alimentação, Programa de Saúde, Programa de Esportes, Programa de Leitura com biblioteca e a Casa das Crianças, com alunos residentes, abrigados, para aqueles que viviam em vulnerabilidade com a família. Era transformar a escola em referência para a comunidade”, finalizou José Ronaldo.